De 11 de setembro de 1836 a 1º de março de 1845, o Rio Grande do Sul chamou-se República Rio-Grandense e considerava-se independente do governo brasileiro. Em meio à Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos), o movimento contestatório que lutava, sobretudo, por impostos e taxas alfandegárias menores, uma parcela de seus combatentes que defendia a separação do Estado (na época província) do restante do império ganhou força.
Entre os farroupilhas existiam muitas divergências e apenas uma minoria queria, de fato, a independência. Contudo, em um momento específico, motivados por vitórias em batalhas importantes e buscando revidar a repressão violenta que tiveram da monarquia brasileira no início, o grupo mais radical se fortaleceu e General Neto proclamou a república.
O professor de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Luciano Abreu, explica que, em comum, monarquistas e republicanos tinham apenas os ideais federativos (ligados à autonomia política da província) e a questão econômica. Por isso, a dificuldade em consolidar a república (obter reconhecimento) e construir uma unidade política.
A ideia de separação foi decorrente da insatisfação do poder centralizador em relação às reivindicações econômicas e políticas. Porém, mesmo com a proclamação, a monarquia continuava tendo aliados no sul do País. "A separação da província e a sua proclamação como estado republicano não foram reconhecidas pelo governo de Portugal. O Uruguai começou um processo de reconhecimento, mas ele não foi concluído. Na prática, esta foi uma república rebelde, na qual apenas a República Rio-Grandense se considerava independente", pontua Fabrício Indrusiak, professor de História do Grupo Unificado.
Raízes das ideias separatistas contemporâneas
A insatisfação dos combatentes na Revolução Farroupilha gerou uma cisão (não institucionalizada formalmente) do resto do País. Após o fim da Guerra dos Farrapos, traços desta ideia se transformaram e foram recriados pelos usos da história.
Abreu destaca que alguns grupos que possuem ideias separatistas costumam fazer uma leitura da Revolução Farroupilha, e constroem seus discursos a partir dos valores que lhe são caros. "Mas é preciso lembrar que outros estados, como a Bahia, também já proclamaram independência e nem por isso fala-se em separatismo baiano", adverte.
Legados da Revolução Farroupilha
Depois de 10 anos de batalha, conseguiu-se espaço na política. A província conquistou o direito de escolher seus governadores e também a diminuição dos impostos.
Porém, o legado que se perpetua até os dias de hoje é o fato de a Revolução Farroupilha ter se tornado o mito de origem do Rio Grande do Sul. A construção da identidade gaúcha ocorreu com as apropriações ideológicas e míticas dos personagens e feitos desta guerra. E, a partir de 1940, com a criação do movimento tradicionalista, houve um reforço deste imaginário social.
Fabrício Indrusiak afirma que, com o surgimento do movimento tradicionalista, precisou-se eleger um mito e, assim, a recriação da história permitiu enaltecer a figura de um povo desbravador, leal, politizado, guerreiro e que pode ser independente. Assim, o 20 de setembro torna-se uma oportunidade para os tradicionalistas do RS retomarem as práticas do passado e relembrarem os feitos históricos, que fazem parte do imaginário do que significa ser gaúcho.
Fonte:Portal Terra
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